Joaquim de Montezuma nasceu na freguesia de Almedina, Coimbra. Optou pelo curso de Direito, como já havia feito o seu pai, o Professor Doutor Joaquim de Carvalho, insigne figueirense que teve Cátedra na Faculdade de Letras da vetusta e nobre Universidade, onde também se doutorou em Filosofia, notabilizando-se como incansável investigador, filósofo, ensaísta criativo e grande divulgador da vertente humanista da cultura portuguesa.
Coube ao filho continuar esta faceta, interiorizando o labor sério e inestimável do seu ilustre progenitor. Porém, entre os dois havia (há sempre!) as naturais diferenças: há quem diga que o filho preferia os poetas e a poesia aos filósofos; seu pai, os filósofos e a filosofia, se bem que Joaquim de Montezuma e seu pai convergissem no estudo e veneração pelo filósofo Bento de Espinosa (séc.XVII). Concluída a licenciatura em Direito, o Dr. Joaquim de Montezuma começa a destacar-se nas lides literárias aquando da Homenagem da Academia Coimbrã ao poeta Teixeira de Pascoaes (1951). Passou uns tempos em Angola e Moçambique, onde a par das tarefas da área do Direito não descurou a actividade cultural, inclusive a comunicação radiofónica. Seguiram-se depois novas motivações. Como diz o povo, “filho de peixe sabe nadar”, ei-lo então a levantar ferro e desfraldar velas em direção a outras paragens mais desafiantes.
Por 1953, o Professor Joaquim de Carvalho viajou por terras brasileiras a convite de várias universidades, onde fez conferências, lecionou cursos e fez muitos amigos. Tudo isto naturalmente reverteu a favor do filho cujos caminhos foram, assim, previamente alisados.
O estreitamento das relações luso-brasileiras teve no Dr. Joaquim de Montezuma um notável paladino. Para a União Brasileira de Escritores, ele “representou intensa e continuamente o verdadeiro papel de um embaixador cultural que, sem alarde, aproximou e divulgou a cultura luso-brasileira com a força da paixão e desprendimento que falta aos acordos oficiais”, in Net. Todavia, esta ação cultural de cavaleiro andante não se confinou ao universo do país irmão. A sua conceção universalista da cultura levou-o também aos países hispano-americanos. Dos géneros literários a que se dedicou, destacam-se a literatura, a crítica literária, o ensaio, a filosofia, a sociologia, a história das ideias... Autor de alguns livros, contam-se por centenas os escritos publicados em revistas e jornais estrangeiros e portugueses. A Biblioteca Municipal da Figueira da Foz conserva um importante acervo do labor intelectual do Dr. Joaquim de Montezuma de Carvalho. Foi membro de diversas associações culturais e galardoado por variadas instituições e múltiplas personalidades do mundo da cultura.
Sabe-se que tanto o Professor Joaquim de Carvalho, como o filho, mantiveram ao longo dos anos indefetível apreço e viva amizade intelectual por Afonso Duarte, o Poeta ereirense falecido em 5 de Março de 1958, cuja comemoração ocorreu ao longo desse ano. Amizade exemplar que levou o Docente universitário a exprimir-se desta forma: “... honro-me de ter sido do meu tempo e de pertencer a uma terra onde chega o salgado da minha, o único Poeta que eu sinto, dentre os que hoje aparecem e comparecem, e aquele cujos pensamentos estão mais próximos dos meus e dos meus juízos sobre certos homens e circunstâncias do mundo sob que jazemos” [apud, José Pires de Azevedo, Lembrança de Afonso Duarte. Cadernos Municipais - 5. Fig. da Foz - 1981].
Por seu turno, Montezuma de Carvalho também apreciava estabelecer relações de amizade com as pessoas, trocar ideias, comunicar informações e saberes. Tendo tido conhecimento, por meados da década de cinquenta, que uma ilustre Professora de Literatura Portuguesa da Universidade do Rio de Janeiro, D. Cleonice Berardinelli, planeava estudar a poesia de Afonso Duarte com os seus alunos, não se faz rogado. Apesar de na altura se encontrar em Angola, promove ele próprio os contactos entre as duas partes e chama a si a divulgação da informação na imprensa regional e nacional portuguesas. Joaquim de Montezuma foi, assim, elo de ligação entre Afonso Duarte e D. Cleo, como é conhecida pelos os seus patrícios.
Nada melhor do que as suas palavras para sublinhar o sentimento de luto e admiração na hora da despedida do Poeta amigo: “Fui à Ereira. O sol continuava a festejar o Poeta. Na casa dos seus pais, num pequeno quarto rodeado de lágrimas, abria-se a flor estática e suavíssima do seu perfil morto”[O Primeiro de Janeiro,12/03/1958]. Palavras que não desmentem a sensibilidade poética e a nobre amizade do seu autor. Talvez, por isso, os dois amigos de velha data tenham “inconscientemente” marcado encontro “com o anjo de asas brancas da morte” para aquela semana de Março, quase no mesmo dia e a escassas horas de diferença e não sei quantos minutos, pese embora a roda do tempo tenha marcado com assinalável aproximação os cinquenta anos decorridos.
João Figueira, Crónica, in “A Voz da Figueira”, Junho de 2008.
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