terça-feira, 18 de outubro de 2011

João de Barros, um Vulto Marcante da I República


É justo que se evoque a memória de João de Barros (Figueira da Foz, 1881/04/02 - Lisboa,1960/10/25), no 50.º aniversário do seu falecimento e 100.º da proclamação da República. Alcançou notoriedade pública como pensador da educação republicana, escritor e defensor entusiástico da aproximação luso-brasileira. Nascido em ambiente familiar e social estimulante, concluiu a instrução primária e secundária na terra natal. Decide-se pelo ensino superior. O jovem Barros ruma a Lisboa, matricula-se no curso de preparatórios da Escola Politécnica para ingresso na Escola Naval, facto que não chegou a consumar-se por sofrer de miopia. Então, dá uma volta à vida matriculando-se na Faculdade de Direito de Coimbra, onde conclui o bacharelato em 1904. No ano seguinte é nomeado professor de Português e Francês do Liceu de Coimbra; em 1906 no do Carmo em Lisboa; e no ano imediato no Liceu de Alexandre Herculano no Porto, até o advento da República.
Porém, em 1907, então na ditadura de João Franco, por decisão régia, é nomeado bolseiro a fim de observar e estudar as inovações introduzidas em várias instituições escolares europeias. Assim, Barros visitou durante cerca de um ano vários estabelecimentos de ensino em alguns países da Europa: Espanha, França, Inglaterra e Bélgica. A partir de determinado momento da visita contou com a colaboração de João de Deus Ramos, fundador dos jardins-escolas de seu nome e antigo colega da Universidade, filho do poeta de “Campo de Flores” e pedagogo, autor da Cartilha Maternal (1876). Do que viu e ouviu, como bolseiro ao serviço da magna causa da educação, deu conta das suas reflexões na obra “ A Escola e o Futuro — Notas sobre Educação” (1908).
Com efeito, da passagem pela capital espanhola relata a prática da coeducação, numa escola privada, experiência que considera “interessantíssima” e outras inovações, tais como, as turmas pequenas, a ausência de manuais, a supressão de exames e o papel do professor como estimulador da iniciativa dos alunos.
Em França, no concernente ao ensino secundário (liceus e colégios), exceto a existência de turmas pequenas e de bom material de ensino, confessa “não encontrar novidade” que se aplique a Portugal. Tal não acontece na “ École des Roches” localizada na Normandia, fundada pelo pedagogo Edmond Demolins sob a aura da Educação Nova. Barros enfatiza: o horário letivo concentrado apenas na parte da manhã, a importância concedida aos trabalhos manuais, os jogos, a aplicação dos modernos métodos de ensino, o “respeito pela criança”, na linha da “formação de homens”.
Da ida à Bélgica dá conta de uma entrevista com o educador belga J.-F. Eslander que defende o ponto de vista da importância, na aprendizagem, da “substituição da ordem científica pela ordem didática-pedagógica, isto é, pelo método que o aluno seguirá naturalmente, passando do facto observado, da experiência feita, para a teoria”.
Na Inglaterra contacta escolas do ensino secundário público e particular, jardins de infância e escolas primárias. Sobre os liceus anota alguns aspetos que, diz, podem ser úteis a Portugal: “a qualidade dos edifícios, turmas pequenas, boa formação profissional dos professores e aprendizagem a mais prática e experimental possível”. Aspetos desfavoráveis: “programas decalcados nos alemães e certa desvalorização da educação física”. Quanto ao ensino particular, a nota mais saliente vai para o colégio Bedales (Petersfield), fundado em 1893 por J. H. Badley para quem a educação da pessoa é entendida como um todo: “a mão, cabeça e coração”, q. d., uma educação integral. Porém, para que este objetivo seja alcançado, considera João de Barros, a arte de educar postula uma formação de professores que tenha em conta “referências à ciência e à arte”.
A comparação entre Portugal e os países visitados permite-lhe avançar as seguintes propostas para o ensino no nosso país: “construção de escolas mais adequadas e bem equipadas; redução de alunos por turma; aplicação do método direto na aprendizagem das línguas vivas; valorização da ginástica; e melhoria da situação moral e material dos professores”. (Alguma informação fornecida provem de “Notas sobre Educação” disponibilizada na Net por Joaquim Pintassilgo, “Os Relatórios de Bolseiros Portugueses...”). 

Joao Figueira, Crónica, in “A Voz da Figueira”, Novembro de 2010.

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