quinta-feira, 31 de maio de 2012

A CRIANÇA

        No dia primeiro do mês de junho cumpre-se mais um Dia Mundial da Criança. Este evento que serve todos os anos de pretexto para iniciativas de vária índole, desencadeadas por entidades públicas ou particulares, constitui um tempo forte, não só para o entretenimento e atividades lúdicas, mas também para uma tomada de maior consciencialização dos inúmeros e vastíssimos problemas que afetam as crianças das sociedades do nosso tempo. 
Constituindo um dos pilares do chamado "triângulo familiar", a criança continua a ser mal amada, diria mesmo, por vezes, objeto de atos infamantes com todo o peso de repulsa que o termo comporta. E não se pense que estou a enfatizar ou a dramatizar esta questão porque basta alguma atenção à comunicação social para nos darmos conta da dimensão dos problemas. 
Apesar dos grandes progressos científicos alcançados acerca do conhecimento da criança no decurso do séc. xx, paradoxalmente a dignidade, consubstanciada nos "Direitos da Criança", continua ainda distante de ser cumprida na praxis do dia a dia. Claro que esta situação acontece não por culpa da criança mas do adulto, consciente ou não das consequências dos seus atos. Não se ignora que a permissividade dos comportamentos e o subjetivismo relativista que se projetam nos critérios de valor atuantes no tecido sociocultural de largas camadas da população, não são de molde a minorar a extensão e a gravidade dos problemas.
 Porém, e em contraponto, há também esforços louváveis e iniciativas positivas, promissoras, públicas e privadas que acalentam as nossas esperanças no futuro. A Humanidade continua a enfrentar imensos desafios, e estes - a promoção e a dignidade da criança - são, seguramente, alguns deles. Porém, perde-se na memória dos tempos, eu diria mesmo que faz parte do património da Humanidade a condição de inocência tão celebrada ao longo da História, que fez da criança uma protagonista privilegiada. Muitos artistas, escritores, nomeadamente os poetas, têm enaltecido o fabuloso mundo da espontaneidade, simplicidade e inocência infantis.
Em suma: não pode ignorar-se, por ser particularmente interessante e elucidativo, que os progressos da Psicologia, na área da satisfação das necessidades e correspondentes motivações humanas, tenham conduzido à descoberta de uma certa correlação entre a satisfação de necessidades de nível elevado e a manifestação de certas caraterísticas e valores. 
Assim, as pessoas que ascendem ao máximo desenvolvimento possível do seu potencial para a perfeição e a criatividade apresentam algumas características, tais como, a espontaneidade, o sentido ético e de valores; o gosto e a capacidade de apreciação da natureza, da arte, e também das crianças... Dir-se-ia que aquela criança que reside bem no fundo de cada um de nós acaba de alguma forma por revelar-se, quando estão reunidas as condições de auto-atualização das potencialidades de uma pessoa.
João Figueira

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