terça-feira, 5 de julho de 2011

"O Sentimento de Deus em J. de Carvalho"


Por iniciativa da Câmara Municipal da Figueira da Foz, realizou-se no passado dia 10, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, uma palestra subordinada ao tema em epígrafe. O conferente convidado foi o Dr. Joaquim Montezuma de Carvalho, filho do ilustre figueirense que, se fosse vivo, faria anos neste dia —, o Professor Doutor Joaquim de Carvalho.
O presidente da Câmara, Eng. Aguiar de Carvalho, que se encontrava ladeado pelo vereador Dr. Armando Garrido, começou por referir-se a Joaquim de Carvalho... “grande vulto da Cultura Portuguesa”, e agradeceu a disponibilidade do orador, acedendo ao convite. Por seu lado, o Dr. Joaquim Montezuma, no uso da palavra, agradeceu o convite e a presença do público. Passou de seguida ao desenvolvimento do tema, citando o filósofo holandês Bento de Espinosa (1632-1677), de origem portuguesa, e o pensador francês Jacques Chevalier que, aquando da morte de Joaquim de Carvalho, afirmou tratar-se de “um católico sem o saber”. O orador mostrou a inconsistência desta interpretação, pois em Joaquim de Carvalho “o sentimento de Deus não provem da fé mas apenas da razão”. E de uma forma mais explícita: “Escrevendo sobre Espinosa, escreveu sobre si próprio”. Para Joaquim de Carvalho, “Deus é a cúpula do edifício mental; é a própria racionalidade”. Joaquim de Carvalho aproximou-se, assim, do “panteísmo da razão” do filósofo holandês, e por isso se distanciou da mundividência cristã/católica.
O palestrante referiu-se também ao “conceito de liberdade” como condição de criatividade, dizendo que Joaquim de Carvalho era “um amante da liberdade para si e para os outros”. Sobre as ideias políticas do pai, o ilustre orador esclareceu que “o pensamento de Joaquim de Carvalho não é de esquerda nem de direita, porque a razão é apartidária, na aceção de Joaquim de Carvalho”. Após palavras de profunda admiração pelo modo de estar na vida do seu progenitor, concluiu com uma referência a Fernando Pessoa: “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”. De Joaquim de Carvalho pode também afirmar-se com propriedade: “Minha Pátria é a Cultura Portuguesa”.
Recorde-se que Joaquim de Carvalho nasceu em 10 de junho de 1892, na Travessa da Rua do Mato, São Julião, Figueira da Foz. Nós, que tivemos o privilégio de tê-lo com Mestre na Faculdade de Letras na Universidade de Coimbra, no ano letivo de 1957/58, conservamos ainda na memória a grata lembrança de um homem culto, de uma grande lhaneza no trato. Esta evocação da memória do Professor Joaquim de Carvalho, da iniciativa da Cãmara Municipal, significou mais uma Homenagem a um dos filhos mais ilustres e diletos desta formosa Terra da Figueira da Foz, a qual laboriosa e justamente a dignificou, e engrandeceu o País, como historiador da Filosofia e da Cultura, pensador e ensaísta, erudito e professor. 

J. Figueira, Crónica, in “O Dever”, Semanário de Formação e Informação da Figueira da Foz, 85/06/12

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